O Talian, hoje elevado ao status de língua brasileira de imigração, é o dialeto oficial da Festa da Uva 2019. O tema do evento Viva una bela giornada pretende fortalecer e manter vivo o idioma que chegou a Caxias do Sul da Itália pelos imigrantes e que se perpetua por gerações. O idioma não está presente apenas no tema da Festa, também há um espaço destinado à sua preservação no Pavilhão Nostra Itàlia (Centro de Eventos).

No estande, há livros em Talian à venda, um espaço para fotos, o estúdio da Rádio Radise, que é a oficial da Festa da Uva 2019 (sediada em Ana Rech, é a única do município que tem em torno de 90% da programação em italiano, comunicando em talian, italiano e português); e parte da história da Associação Cultural Miseri Coloni.

Moacir Dall Castel, um dos responsáveis pelo estande afirma que a Federação de Entidades Italianas do Brasil, Associação dos Radialistas Difusores do Talian e Associação de Entidades Italianas do Oeste Catarinense se movimentaram ao longo de muitos anos em busca da valorização do dialeto. “O que era um dialeto até 2014, passou a ser identificado como língua e em busca deste reconhecimento trabalhamos arduamente para que o idioma seja reconhecido como uma Língua de Referência Cultural Brasileira. Um inventário foi criado ao longo dos anos, catalogando pessoas e famílias que ainda praticam o dialeto Talian”, ressalta.

Os visitantes também encontram no estande parte da história da Associação Cultural Miseri Coloni, que é um grupo fundado em 1980 para resgatar, preservar e cultivar as tradições dos imigrantes italianos, por meio de atividades artísticas, principalmente, o teatro. Um dos fundadores do Miseri Coloni e integrante do Conselho Estadual de Cultura e do Colegiado Setorial de Diversidade Linguística do Estado, João Tonus, ressalta que o apoio da Festa ao espaço e a escolha do tema vão ao encontro do que defendem: manter o Talian vivo. “Vendemos a ideia de que o Talian tem que ficar vivo. Nós defendemos que o idioma seja reconhecido e ensinado às crianças e a comunidade tem o direito de decidir manter as línguas maternas. Se a população abraçar o ensino é uma maneira de valorizar a cultura italiana e manter a tradição”, defende.

Reconhecido como referência cultural brasileira pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o talian surgiu como dialeto, mistura de jeito de falar de imigrantes de diversas regiões da Itália misturada as palavras em português. A mistura ocorria porque os italianos vieram de regiões diferentes e o uso de dialetos diversos era comum no país. La Gazeta – Outro destaque do espaço do Talian na Festa da Uva 2019, que segue até domingo, 10, é uma edição especial de 10 mil exemplares do jornal La Gazeta, de Serafina Corrêa.

O impresso, com Editorial com a presidente da Comissão Comunitária, Sandra Mioranzza Randon, e depoimentos da rainha Maiara Perottoni e das princesas Milena Remus Caragnatto e Viviane Piamolini Gaelzer, foi todo escrito em talian, língua co-oficial do município. A cidade, colonizada principalmente por italianos, conta com uma lei que respaldou o município para investir mais na preservação do idioma. “O talian faz parte da história dos descendentes italianos e da Festa da Uva. Por isso, todas as ações que buscam preservar o idioma são muito importantes, para esta e para as futuras gerações”, destacou a presidente Sandra.


Fotos: Anderson Dalcin